Diante do recente episódio noticiado no começo do mês, a explosão de um armazém de fogos de artifício no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, que causou grandes danos materiais e provocou a evacuação de áreas próximas — torna-se essencial compreender como o mercado de seguros atua em situações de alto impacto como essa, mesmo na ausência de vítimas fatais.
Para colaborar com a cobertura do tema, reunimos abaixo respostas do Marlon Basso, Superintendente de Sinistros da REP Seguros. técnicas que explicam quais tipos de cobertura são acionados em eventos dessa magnitude, como é feita a avaliação de risco em instalações que armazenam materiais explosivos e quais são os principais desafios no processamento de sinistros decorrentes de grandes incêndios e explosões.
1. Quais coberturas de seguro são acionadas em eventos como a explosão de um armazém de fogos de artifício, considerando não haver, aparentemente, vítimas, mas diversos danos a imóveis e áreas vizinhas?
Marlon: “Em um cenário como a explosão de um armazém de fogos de artifício, diversas coberturas de seguro são acionadas, mesmo na ausência de vítimas fatais, devido aos extensos danos materiais. Primeiramente, a cobertura de Incêndio, Raio e Explosão do seguro patrimonial da própria instalação seria a principal acionada para cobrir os danos ao imóvel e ao conteúdo do armazém. No entanto, o impacto de uma explosão de fogos de artifício se estende muito além do local de origem.
Para os danos a imóveis e propriedades de terceiros nas áreas vizinhas, a cobertura de Responsabilidade Civil Operações é fundamental. Esta cobertura visa indenizar terceiros por danos materiais ou corporais causados durante a operação da empresa, incluindo os decorrentes de explosões. É crucial que a apólice contemple limites de indenização adequados para cobrir a vasta extensão de possíveis prejuízos em um raio de impacto considerável. Além disso, dependendo da natureza dos danos e da interrupção das atividades comerciais nas proximidades, outras coberturas como Lucros Cessantes de Terceiros (se aplicável e contratada) ou até mesmo despesas com Descontaminação Ambiental (se houver dispersão de resíduos perigosos) podem ser relevantes.”
2. De que forma a corretora avalia o risco em instalações que armazenam materiais explosivos e pirotécnicos, e que medidas preventivas são exigidas para manutenção da cobertura?
Marlon: “A avaliação de risco em instalações que armazenam materiais explosivos e pirotécnicos é um processo extremamente detalhado e rigoroso para as corretoras e seguradoras. Não se trata apenas de preencher um questionário. Nós realizamos uma due diligence aprofundada, que inclui:
Vistorias Técnicas: Engenheiros de risco especializados visitam as instalações para avaliar a conformidade com as normas de segurança, a qualidade da construção, os sistemas de prevenção e combate a incêndio (sprinklers, hidrantes, detectores), a adequação do armazenamento (distâncias, ventilação, segregação de materiais), e a gestão de resíduos.
Análise de Normas e Regulamentações: Verificamos se a empresa cumpre integralmente as legislações locais, estaduais e federais específicas para explosivos (como a NR 19 no Brasil, por exemplo), incluindo licenças de operação, alvarás e certificações de órgãos como o Corpo de Bombeiros e o Exército.
Histórico de Sinistros e Incidentes: Analisamos o histórico de acidentes da empresa e do setor para identificar padrões e pontos de vulnerabilidade.
Planos de Emergência e Contingência: Avaliamos a existência, a efetividade e a periodicidade de treinamentos de planos de evacuação, combate a incêndio e resposta a emergências.
Para a manutenção da cobertura, as medidas preventivas exigidas são contínuas e não negociáveis. Elas incluem:
Manutenção Rigorosa: A manutenção preventiva e corretiva de todos os equipamentos de segurança, elétricos e estruturais.
Conformidade Regulatória Permanente: A empresa deve manter todas as licenças e alvarás atualizados e em conformidade com a legislação vigente.
Treinamento Contínuo: Capacitação e reciclagem periódica de todos os funcionários em segurança, manuseio de materiais perigosos e procedimentos de emergência.
Auditorias Internas e Externas: Realização regular de auditorias para identificar e corrigir não conformidades antes que se tornem problemas.
Investimento em Tecnologia de Segurança: Adoção de novas tecnologias que possam aprimorar a segurança, como sistemas avançados de detecção de incêndio e monitoramento.
Gestão de Mudanças: Qualquer alteração significativa na operação, layout ou volume de armazenamento deve ser comunicada e aprovada pela seguradora.”
3. Quais são os principais desafios no processamento de sinistros desse tipo — sendo eles grandes incêndios/explosões com possível contaminação e evacuação — e como a REP reduz o tempo de pagamento e evita fraudes ou litígios?
Marlon: “O processamento de sinistros de grandes incêndios/explosões, especialmente com envolvimento de materiais perigosos, é complexo e apresenta desafios significativos. Os principais são:
Avaliação da Extensão dos Danos: A destruição massiva dificulta a quantificação precisa dos prejuízos, exigindo perícias detalhadas e por vezes em ambientes perigosos.
Causa e Origem do Sinistro: Determinar a causa exata da explosão pode ser um processo longo e complexo, envolvendo investigações forenses e análise de múltiplos fatores.
Danos a Terceiros e Responsabilidade: A complexidade aumenta exponencialmente quando há danos a propriedades e pessoas fora da instalação segurada, exigindo a apuração de responsabilidades e a coordenação com múltiplos envolvidos.
Contaminação Ambiental: A possível contaminação do solo, água e ar adiciona uma camada de complexidade, exigindo avaliações especializadas e custos elevados de remediação.
Interrupção de Negócios: A paralisação das atividades da empresa e, potencialmente, de negócios vizinhos, gera perdas por lucros cessantes que precisam ser calculadas com precisão.
Evacuação e Despesas Adicionais: Os custos associados à evacuação de áreas, alojamento temporário e outras despesas emergenciais também precisam ser gerenciados.
Para reduzir o tempo de pagamento e mitigar fraudes ou litígios, a REP (referindo-me à ‘corretora’ ou ‘empresa de seguros’ em geral, já que não há uma sigla específica no prompt) adota uma abordagem multifacetada:
Equipe Especializada em Sinistros Complexos: Contamos com peritos e reguladores de sinistros
altamente experientes em grandes perdas e riscos industriais, capazes de atuar rapidamente no local.
Tecnologia e Análise de Dados: Utilizamos ferramentas avançadas para mapeamento de danos, análise de dados de sensores (se disponíveis) e modelagem de cenários, agilizando a quantificação e a compreensão do evento.
Comunicação Transparente e Proativa: Mantemos um canal de comunicação aberto e constante com o segurado e os terceiros afetados, fornecendo atualizações e esclarecimentos para gerenciar expectativas e reduzir atritos.
Documentação Rigorosa: Orientamos o segurado sobre a importância da documentação detalhada de todos os danos, despesas e perdas, o que é crucial para uma análise eficiente e para evitar contestações.
Mediação e Resolução Alternativa de Disputas: Em casos de divergência, buscamos soluções amigáveis através de mediação ou negociação,