Sidnei Canhedo - Biólogo e gestor da Optalert, empresa australiana, líder mundial na tecnologia de controle de fadigas

A Europa pretende acabar com as mortes em estradas até 2050

(*) Por Sidnei Canhedo – Biólogo e gestor da Optalert, empresa australiana, líder mundial na tecnologia de controle de fadigas

A meta no Velho Continente é desafiadora mas completamente urgente: a União Europeia quer cortar pela metade o número de fatalidades e feridos graves até o final desta década e, gradualmente, eliminar, por completo, esses acidentes até 2050.

A missão é ousada e tem como referência 2019 quando morreram 22.800 pessoas. Ano passado, esse patamar foi reduzido em 10%, para 20.400 fatalidades.

Embora alguns especialistas questionem o quanto factível seja este projeto em termos de prazo, no próximo mês de junho a União Europeia fará valer mais uma etapa do pacote de regulamentações do Euro NCAP (Programa Europeu de Segurança em Automóveis). As novas diretrizes são ações que tem como objetivo promover uma transformação positiva na rotina diária do sistema rodoviário dos 27 países que compõem o bloco.

Entre as diversas normas projetadas, que começam a valer a partir de 7 de julho de 2024, está o DDAW, sigla em inglês para Alerta de Sonolência e Atenção do Motorista que terá que estar em todos os carros novos.

Trata-se de um sistema que avalia o estado de alerta do condutor através da análise dos sistemas do veículo e, quando necessário, fornece um aviso ao condutor. O DDAW deve detectar e reconhecer o padrão de condução e/ou direção sintomática de um motorista que apresenta um estado de atenção reduzido devido à fadiga, e interagir e alertar o condutor através da interface homem-máquina do veículo.

Na prática, todos os veículos que circularem na União Europeia terão que ter um equipamento que identifique sono ou fadiga, algo obrigatório como é hoje o airbag na maioria dos países. Vale lembrar que de acordo com dados oficiais do bloco, entre 15% e 20% dos acidentes graves estão relacionados com fadiga ou sonolência e essa determinação de uso obrigatório poderá ser um divisor de águas na redução drástica desses números, em prol da preservação de vidas de motoristas e pedestres.

Mas enquanto a Europa corre contra o tempo perdido, utilizando a tecnologia em nome da segurança, como está o Brasil? Estagnado!

Não há nem debates significativos sobre a construção de uma legislação com metas concretas como a da União Européia que contemple um pacote robusto de ações como, por exemplo, o uso de tecnologia no controle de alerta de motoristas.

Há campanhas importantes, lideradas por entidades não governamentais, como o Observatório Nacional de Segurança Viária, que encabeça o ‘Maio Amarelo’, que esse ano vem teve como tema “A paz no trânsito começa por você”. A iniciativa conta com a participação de diversas concessionárias rodoviárias, que promoveram mais de 600 ações pelo país.

Também há, evidentemente, campanhas constantes realizadas por organismos públicos e pelas polícias rodoviárias estaduais e federal, que provocam uma conscientização importante e fundamental no processo educativo.

Os esforços são válidos e bem-vindos, mas vivemos em um país com índices elevadíssimos de acidentes e os remédios para esse drama precisam ser mais intensos, amplos e efetivos. Para se ter uma ideia, dados da Organização Mundial da Saúde mostram que o Brasil é o terceiro país com mais mortes no trânsito no planeta, tendo fechado 2022 com impressionantes 31.174 óbitos em suas ruas e estradas. Está atrás apenas de Índia e China, com populações que ultrapassam 1.4 bilhão de habitantes cada, contra 203 milhões do Brasil.

O fato de não haver uma proposta de um programa do nível da União Europeia prestes a ser aprovado por aqui, é assustador. Isso porque em qualquer projeto como esse existe um tempo de implantação, para que as montadoras se adequem e para que o motorista seja educado quanto a novas regulamentações. São alguns anos desde a aprovação até a implantação completa, o que significa que milhares de vidas serão perdidas devido a esse atraso dos organismos governamentais.

E não é que a tecnologia não esteja disponível. A mineração brasileira, em algumas empresas, já adota há anos instrumentos de detecção de fadiga, dos mais modernos no mundo, em operações fechadas, em caminhões fora-de-estrada. Os resultados são expressivos e são benchmark global, com índices que comprovam reduções de até 95% de acidentes graves em operações realizadas no Pará.

Há outras tecnologias mais simples utilizadas em frotas rodoviárias que são promovidas por transportadores e que também demonstram resultados relevantes. Contudo, é preciso pontuar que soluções que utilizam apenas câmeras de monitoramento padrão, além de pouco eficazes, costumam ser desligadas por motoristas e, às vezes, falham em apontar distrações que não ocorreram, podendo até causar situações de risco

Mas há como combater a fadiga e o sono ao volante tanto com soluções que virão de fábrica, munidas de Inteligência Artificial e tecnologia de ponta, como com legislação que pune motoristas irresponsáveis, como fazem alguns estados norte-americanos, que equivalem a pena por conduzir com sono ou cansaço, a mesma de um condutor embriagado.

Temos tudo para reduzir significativamente os trágicos números de acidentes em nossas pistas, mas há muito o que fazer e estamos bem atrasados. A Europa mostra alguns caminhos, temos que entrar nessa rota pela vida, urgentemente.

Sidnei Canhedo é biólogo e gestor da Optalert, empresa australiana, líder mundial na tecnologia de controle de fadigas. scanhedo@optalert.com

Sidnei Canhedo - Biólogo e gestor da Optalert, empresa australiana, líder mundial na tecnologia de controle de fadigas
Sidnei Canhedo – Biólogo e gestor da Optalert, empresa australiana, líder mundial na tecnologia de controle de fadigas

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