ESG na subscrição dos produtos é tema do ANSP Café

ESG na subscrição dos produtos é tema do ANSP Café

Academia reuniu profissionais para discutir tema pelo prisma da indústria de seguros, tendo em vista o desenvolvimento de produtos e a subscrição dos riscos

No dia 11 de julho, a Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP) realizou uma live para falar sobre ESG na subscrição dos produtos, em mais uma edição do ANSP Café. Transmitido pelo canal da instituição no Youtube, o evento teve a participação do Ac. Rogério Vergara, Presidente da ANSP, na abertura e apresentação, e da Ac. Solange Beatriz Palheiro Mendes, Coordenadora da Cátedra ESG da ANSP, na contextualização e moderação.

Essa edição do ANSP Café foi coordenada pelo Ac. Edmur de Almeida, corretor de seguros, Vice-presidente da ANSP, juntamente com a Ac. Solange Beatriz Palheiro Mendes e a Ac. Camila Maximo Davoglio, Atuária e integrante da Cátedra ESG da ANSP.

Teve o apoio da Associação Internacional de Direito de Seguros (AIDA Brasil), da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR) e da Associação das Mulheres do Mercado de seguros (Sou Segura).

Também contou com as presenças de Maria Eugenia Buosi, Sócia líder de ESG & Climate Finance na KPMG Brasi, mestre em finanças e especialista em ESG para mercado financeiro, da Ac. Camila Davoglio, e de Patricia Marzullo, executiva de seguros especialista em P&C, como palestrantes.

Contextualização do tema:

Cada vez mais o mercado de seguro vem pautando a agenda ESG. Há conteúdo sobre ESG com foco em responsabilidade social, sobre como reportar as ações realizadas, sua associação aos ODS e como o mundo está tratando esse tema. Contudo, quando olhamos para o mercado segurador, pouco sabemos como ESG é considerado no desenvolvimento de produtos e no momento da subscrição dos riscos.

Diante desse cenário, o ANSP Café trouxe o tema à discussão, mostrando uma visão geral do mercado de seguros brasileiro, como as seguradoras têm desenvolvido seus produtos e como a subscrição deve analisar os riscos com um olhar voltado também para ESG.O evento objetiva trazer luz para esse assunto que já vem sendo debatido há bastante tempo no mercado de seguros.

Recentemente, foi publicado no “International Journal of sustainability development and planning” um artigo trazendo uma visão sistemática de ESG na indústria de seguros, com insights relativos a integração de ESG com seguros, a criação de produtos sustentáveis.

O texto estimula a descoberta pelos benefícios da aplicação dos princípios de ESG dentro do setor, de forma a transformar as seguradoras em agentes estimuladores da sustentabilidade.

Esse é um potencial novo fluxo de receita para o mercado de seguros. Todas as operações comerciais que as seguradoras e os fundos de pensão já fazem são ou serão de alguma forma impactados por fatores ESG, seja na atividade de investimento, na gestão de riscos, de produtos ou na avaliação de ativos e passivos.

A leitura que o artigo trouxe é a de que a sustentabilidade não é mais apenas uma questão de ética. Ela emerge como um aspecto econômico crucial e se torna objetivo de todas as empresas, independente da sua dimensão, além de ser um fator que ajuda empresas a se tornarem mais competitivas e a se destacarem no mercado.

Atualmente, consumidores, investidores, operadores, entre outros, forçam e impulsionam a exigência do mercado para que as empresas adotem práticas de sustentabilidade.

A sustentabilidade é um diferencial nas decisões de compra, de investimento e de financiamento. A importância das companhias de seguro como investidores institucionais necessários e como fornecedores de riqueza e proteção fisiológica estruturalmente já está aumentando.

As seguradoras sempre desempenharam um papel significativo no financiamento da sociedade de maneira geral, principalmente devolvendo os recursos necessários à reconstrução e reparação de bens danificados por qualquer tipo de acidente coberto por apólices.

“Na minha visão, reconhecer os valores de ESG na avaliação dos riscos é o primeiro passo. As abordagens convencionais talvez ignorem detalhes importantes. Os profissionais de seguros podem conduzir a um futuro mais sustentável, tomando certas medidas para atender à crescente demanda que há por produtos conscientes, criar soluções de ponta, incentivar as empresas a dar maior prioridade à sustentabilidade ambiental, atraindo consumidores ecologicamente conscientes”

disse Vergara

Segundo Solange Beatriz Palheiro, já faz algum tempo que alguns profissionais defendem a contribuição que a observância desses princípios pode trazer para melhorar os resultados das empresas. Mas o fato é que ainda se tem pouca materialidade do que que o setor vem fazendo. Os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI na sigla em inglês) de ESG vem tratando disso já há algum tempo, tentando trazer ferramentas para as empresas, como elaborar esse gerenciamento de riscos ambientais, sociais e de governança nos negócios, principalmente dos ramos elementares.

E a forma como o setor de seguros faz isso é entendendo, prevenindo e gerenciando melhor essas oportunidades de oferta de proteção.

Painel I – Visão Geral sobre o tema no mercado de seguros; o que temos visto na prática

Como sócia líder da agenda de ESG e Climate Finance na KMG, Maria Eugenia Buosi trabalha diariamente com os setores financeiro e o segurador, com o intuito de unir esses dois mundos, que muitas vezes têm dificuldade de se conversar e em trabalhar a agenda de finanças junto com a de sustentabilidade.

A executiva enxerga com naturalidade a importância da discussão no mercado de seguros, tendo em vista os desafios sociais e ambientais inquestionáveis enfrentados na atualidade. Cada vez mais estamos lidando com emergência climática, escassez de alguns recursos naturais importantes, além de uma desigualdade social nunca antes vista no nosso planeta.

“A gente começa a ver cada vez mais que as agendas de meio ambiente e sociais vão impactar crescentemente a agenda econômico-financeira. Hoje falamos de uma agenda que se soma, que se integra”

explicou.

Há vinte anos no mercado de trabalho, a profissional teve, desde muito cedo, a percepção de que as empresas que estão olhando para a ASG são mais bem geridas. E por terem uma gestão de risco melhor, são mais resilientes. Como consequência de serem empresas mais atentas ao seu contexto de negócio, são mais competitivas. O resultado disso são companhias mais rentáveis, longevas e perenes.

Quando se fala em agenda ESG, fala-se principalmente de risco. A porta de entrada de ESG é o risco, e isso vale para as empresas, bancos, investidores e seguradoras. Já o core business de seguros é risco: subscrição de risco; gestão de risco e carregamento de risco.

O que temos visto é que o ESG tem entrado muito à luz da gestão integrada de riscos. ESG não é um risco segregado, embora a própria regulação, tanto para o setor financeiro, quanto para o setor segurador traga essa modalidade de risco.

Exemplificando, uma agenda de clima, por exemplo, pode impactar o risco de subscrição de um setor como seguros rurais, ramos elementares, grandes riscos. Enquanto uma agenda social pode impactar, o seguro de vida, a previdência privada e a capitalização.

Em sua palestra, a executiva falou de fatores que permeiam a captação do cliente, a subscrição do risco, a gestão do risco, o atendimento do sinistro e a gestão dos salvados. Reforçou que é preciso ter entendimento de quais são os fatores que vão representar um maior ou menor risco ou oportunidade de negócio quando a se fala na agenda de sustentabilidade.

Maria Eugênia nota cada vez mais um olhar ESG para o desenvolvimento de novos produtos de seguros, novas coberturas, revisão de clausulados de apólices e de várias agendas que podem integrar a gestão das seguradoras de uma forma mais sistêmica e mais ampla.

Em sua apresentação, a especialista também discorreu sobre conceitos de materialidade no seguro para ESG, financeira e a relação com a subscrição de riscos. A painelista reforça que é preciso entender as salvaguardas necessárias, quais cenários precisam ser desenhados, de que forma as informações devem ser incorporadas na análise, no processo de decisão, no momento do desenvolvimento de um produto, da definição de uma cobertura, da subscrição de risco e da tomada de decisão de risco em relação à carteira. Isso vale para todos os ramos dentro da cadeia seguradora.

Quanto aos impactos positivos e negativos para o setor, Maria Eugênia entende que é muito fácil falar dessa agenda em um setor de serviços, que tem por definição de modelo de negócio um impacto positivo na vida das pessoas. Ela defende que, para compor um portfólio robusto, para fazer uma subscrição de risco que contemple essa agenda é fundamental olhar para a forma como isso está impactando a geração de negócio dos clientes das seguradoras.

“Do ponto de vista da oportunidade, do desenvolvimento de produtos em um mundo que está em mudança do clima, de padrão social, do tecido social, quais são os produtos de seguros que vão manter as companhias seguradoras no mercado nas próximas décadas, para os quais é preciso olhar em termos de cobertura? Se não soubermos trabalhar a realidade social demográfica do nosso País, para quem nós iremos desenvolver produto? É desafiador, mas é um oceano para navegar”

destacou.

De acordo com a executiva, a sustentabilidade pode ajudar a responder várias dessas perguntas a medida em que trouxermos mais dessas variáveis para o processo padrão de subscrição, gestão e carregamento de risco e de desenvolvimento de produtos. Por fim, a painelista respondeu as perguntas dos internautas sobre o seguro saúde e falou sobre as próximas fronteiras da sustentabilidade.

Painel II – Como os produtos podem ser desenvolvidos com o olhar de aplicação dos princípios ESG

O desenvolvimento de produtos envolve muito mais do que cláusulas ou coberturas. Engloba o prestador de serviço, que faz uma inspeção de risco e contribui para análise até o produto final, que é a cobertura e qual é o público-alvo a ser atingido. Segundo Camila Davoglio, em termos de ESG, o mercado nacional tem acompanhado muito o que está acontecendo na Europa. Lá já existem algumas regulamentações, com marcos que estão um pouco mais avançados do que no Brasil, em termos ambientais. Porém, se olharmos para a parte social o Brasil está na frente.

“Ultimamente temos visto uma discussão sobre taxonomia, que vem para nos ajudar a metrificar, criar um formato e ajudar as empresas a implementarem isso”

sinalizou.


Em relação ao produto de seguro, no mercado brasileiro as seguradoras têm discutido muito as novas regulações que a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) implementou, começando por uma regulamentação específica e agora com as consultas que tratam bastante da taxonomia, que traz muito do formato necessário para fazer a implantação tanto dessas ações, do ponto de vista de ação, como empresa, até o que é colocado diretamente nos produtos.

Para as seguradoras que tem uma origem europeia e que já têm algum marco definido na Europa, existe uma certificação a ser feita para implantação desses produtos.

Até muito pouco tempo atrás, as empresas só pensavam o social pelo lado de responsabilidade social. Agora, já se vê a discussão em torno de como isso se reflete nos produtos de seguros existentes. A implementação de quesitos e ações que atendam aos requerimentos tem acontecido de uma forma mais avançada do lado ambiental, no seguro de grande risco, onde há maior exposição e há maior preocupação das seguradoras em relação ao impacto ambiental e reputacional.

“E quando eu olho para o social, que tem sido um tema bem quente no Brasil, por conta dessa definição da taxonomia, por toda a desigualdade social, vemos que isso acontece de uma forma mais abrangente nos seguros de massificados, que são aqueles que são vendidos para grande população”

comentou.

Sobre o viés social do seguro, como uma ferramenta de inclusão, Camila entende que essa é uma camada de atendimento que as seguradoras ainda estão aprendendo a lidar. Quando olhamos para aqueles seguros que tem grande risco envolvido e grande potencial de atingir populações inteiras, nota-se uma preocupação maior da indústria seguradora sobre como incluir as questões de ESG em toda a cadeia de valor do produto de seguro.

Em sua apresentação, a executiva ainda abordou tópicos como governança das ações dentro do produto, documentações, verificações por múltiplas áreas, diversificação na distribuição dos produtos, discurso de vendas, ampliação de canais e demonstrações de resultado.

“O produto vem para contribuir com números que são palpáveis, mais passíveis de se rastrear e demonstrar nos relatórios de sustentabilidade. O ESG traz um custo no desenvolvimento de produto, ao mesmo tempo que amplia e ele diversifica o seu canal de distribuição e a população a ser atingida. Também traz um aumento de receita e de engajamento da própria força colaborativa”

salientou.

Painel III – Aplicação do ESG no momento da subscrição de um risco

ESG é a palavra da vez. Um tema que continua em voga no dia a dia de todos os brasileiros, tanto em caso quanto no trabalho, em novas políticas, na mídia e na economia. No contexto atual, o grande desafio do nosso século é a transição energética para uma economia de baixo carbono. Então, há muito o que se evoluir.

“Vemos as mudanças climáticas que estão acontecendo e é daí que vem a importância das grandes corporações na aderência do ESG, para fomentar, trazer empresas que possam capturar o gás carbônico do ambiente ou alterar a energia, desenvolver para novas tecnologias que tem mais eficiência, substituir termoelétricas para energia renovável, parques eólicos, parques solares. A economia está em evolução com relação à parte tecnológica e ambiental”

pontuou Patricia Marzullo.

No que diz respeito ao seguro, Patrícia aponta que a SUSEP já deu grande importância aos fatores climáticos, como gestão de riscos, com a circular 666. No mês de junho, a autarquia lançou um edital de consulta pública ao mercado, para escutar ideias e sugestões, a fim de trazer o desenvolvimento de novos planos e produtos sustentáveis.

Em sua fala, a executiva também abordou temas como a subscrição de grandes riscos e a evolução da análise de riscos, além de captura de carbono, política de sustentabilidade e análise técnica e financeira do cliente.

Assista a live completa no canal da ANSP

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