(*) Por: Rubens W. Machado Filho – Cartagena foi o cenário escolhido para o Congresso da ALSUM 2025, um encontro que uniu tradição, história e o vibrante futuro do seguro marítimo latino-americano para para discutir os novos riscos e desafios do transporte e da logística global. O evento deixou claro que o setor de seguros marítimos e de transporte está passando por uma transformação sem precedentes, mostrando que já não é possível tratar o risco como algo estático.
A tecnologia, a transição energética e as mudanças climáticas estão redesenhando o mapa do risco no comércio internacional, e o seguro precisa acompanhar esse novo cenário com uma visão mais prática, integrada e simplificada.
O crescimento expressivo do consumo e transporte de veículos elétricos, que utilizam baterias de íon-lítio, trazem consigo riscos logísticos e ambientais significativos. A possibilidade de incêndios espontâneos e de difícil contenção em razão do calor extremo gerado, representa uma ameaça concreta durante o transporte marítimo e terrestre.
Muitos contratos ainda tratam esse tipo de carga como se fosse um automóvel comum, o que é um erro técnico grave. Hoje há necessidade de um estudo mais criterioso de medidas rigorosas de acondicionamento, monitoramento contínuo e, sobretudo, a previsão de coberturas securitárias específicas para esse tipo de transporte, não só da carga, mas do seguro casco também.
As mudanças climáticas também estão evoluindo e devem ser reconsideradas. Enchentes, secas, tempestades e furacões têm aumentado a frequência e a gravidade dos sinistros em portos, armazéns e rotas comerciais. O que antes era considerado evento extraordinário agora faz parte da rotina. O seguro de transporte, portanto, precisa repensar suas exclusões de força maior e revisar os critérios de cobertura. O problema é que as apólices continuam longas, confusas e cheias de remissões. Num cenário em que os riscos se tornam mais complexos e interligados, o texto da apólice deveria caminhar na direção oposta: ser mais simples, direto e transparente.
Os subscritores precisam entender que a simplicidade contratual não é sinônimo de fragilidade, mas de segurança. Uma apólice clara, objetiva e acessível ao segurado evita disputas, acelera a regulação e fortalece a confiança entre as partes. A complexidade técnica deve ficar para o bastidor, na modelagem do risco, e não no texto que o cliente lê e assina.
O excesso de termos vagos e remissões dificulta a interpretacao do que poderia ser dito de forma clara.
O grande recado do ALSUM 2025 deixa claro que o mercado segurador precisa de menos burocracia e mais tecnologia a serviço da eficiência. Quando bem aplicada, a tecnologia se torna uma aliada para prevenir, simplificar e resolver. Com ela, o seguro pode finalmente ser personalizado, permitindo uma análise precisa do risco de cada segurado. As apólices passam a refletir o risco real, não médias estatísticas, resultando em preços mais justos e uma relação de maior confiança entre seguradora e cliente.
Os riscos estão mudando rapidamente e, com eles, a própria lógica do seguro. Se quisermos continuar protegendo bens, vidas e operações de forma eficiente, será preciso falar uma nova língua, mais simples, transparente e compatível com o tempo em que vivemos
Rubens W. Machado Filho
Advogado com pós-graduação em Direito Processual Civil, Administrador de Empresas, sócio da Machado e Cremoneze Advogados Associados, Diretor do IIDT – Instituto Internacional de Direito dos Transportes, membro efetivo do IASP – Instituto dos Advogados de São Paulo, da ILA – Internacional Law Association (Londres), do IIDM – Instituto Ibero-Americano de Direito Marítimo e da AIDA – Associação Internacional de Direito dos Seguros, CEO da MACHADO Claims Consulting (EUA), autor de artigos publicados em revistas especializadas em seguros e transportes de cargas.