Kondzilla: Do Seguro de Vida ao Maior Canal do YouTube

Konrad Dantas, o KondZilla (à esq.), e Mano Brown (Foto: Jef Delgado/Divulgação)

A participação de KondZilla no podcast Mano a Mano, apresentado por Mano Brown, trouxe à tona reflexões valiosas sobre acesso, proteção e desigualdade no Brasil.

KondZilla, criador do maior canal de música da América Latina, compartilhou que a grande visionária da sua família foi sua mãe — uma mulher periférica que, ao contrário do que muitos imaginam, não possuía apenas um, mas três seguros de vida.

Esse planejamento financeiro foi determinante para transformar a trajetória de KondZilla e de seu irmão.

O valor da indenização recebida após a morte da mãe proporcionou a eles acesso à educação, ferramentas para o crescimento pessoal e condições mínimas para explorar o potencial criativo que já existia na quebrada. Esse tripé — indenização, educação financeira e criatividade periférica — foi o verdadeiro ponto de virada.

O mais impressionante é que histórias como essa devem existir aos milhares, mas seguem invisíveis no mercado de seguros. Por quê? Talvez porque o próprio mercado, historicamente elitista e excludente, ainda mantém distância de uma cultura que nasce e resiste nas favelas.

O Desinteresse pelo Seguro Popular

Quando se fala de seguro popular, muitas empresas e corretores simplesmente ignoram a oportunidade, alegando que o baixo ticket médio não compensa o esforço de venda. O problema é que o foco continua sendo o lucro imediato e não a construção de uma base sólida de proteção social e inclusão financeira.

O mercado de seguros ainda falha em criar programas de venda e campanhas que dialoguem com as realidades das periferias. Em vez de pensar produtos ajustados à linguagem e às necessidades desse público, prefere reforçar os mesmos formatos tradicionais que, na prática, não conversam com quem mais precisa de proteção.

O Historico de Exclusão

A exclusão das pessoas pretas e periféricas do mercado de seguros não é recente. Durante o período da escravidão, pessoas negras eram consideradas propriedades seguráveis. Quando um escravizado falecia, a indenização era paga ao seu proprietário. Os negros não eram seguráveis como indivíduos livres — eram parte do patrimônio dos senhores de escravos.

Após a abolição, em 1888, o mercado de seguros no Brasil permaneceu alinhado aos interesses da elite agrária, que continuou protegida, enquanto a população negra e pobre ficou desamparada. Diferentemente dos Estados Unidos, que ainda tiveram algumas tentativas de reparação (como a política dos “40 acres e uma mula” para ex-escravizados), o Brasil não criou nenhuma estrutura de compensação ou suporte para os libertos.

Um Mercado Limitado Para a Favela

Hoje, a maior parte dos produtos de seguros oferecidos à população periférica se resume a seguros de vida básicos, auxílio-funeral ou produtos de capitalização — muitas vezes mal explicados e pouco vantajosos. Quase não existem soluções acessíveis para seguros residenciais, seguros de crédito para pequenos empreendedores, ou seguros fiança que poderiam facilitar o aluguel de espaços comerciais, a compra de equipamentos ou investimentos simples, como uma geladeira ou uma impressora profissional — bens que fazem toda a diferença para quem está começando com muito pouco.

Para quem tem acesso, terras ou crédito fácil, esses investimentos são rotina. Mas, para quem vem da favela, são sonhos distantes.

Oportunidade de Transformação

Assim como KondZilla transformou sua realidade e criou um império a partir da sua vivência periférica, o mercado de seguros precisa transformar sua postura. É preciso enxergar a favela não como um risco, mas como um mercado legítimo, potente e repleto de histórias que merecem proteção.

O seguro de vida pode e deve ser uma ferramenta de inclusão, dignidade e desenvolvimento para as famílias da periferia. Mas para isso, o mercado precisa deixar de lado seu elitismo e começar a construir soluções que realmente façam sentido para quem vem da base.

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